Este blog tem como objetivo documentar a aventura que será frequentar este mestrado

domingo, 23 de janeiro de 2022

eL@IES - Encontro de Instituições e Unidades de eLearning so Ensino Superior 2021

 


eL@IES




O Convite da professora Lina Morgado para assistir a este encontro, foi deveras pertinente pois permitiu que tivesse contacto com investigadores e linhas de pensamento nesta área.

O encontro dividiu-se por 3 painéis:

  • Da transformação Digital à transformação Pedagógica no Ensino Superior;
  • Abordagens de Ensino Híbridas- Conceções e, Discussões e Limites;
  • Desafios da Educação à Distância na Era Digital
Todos estes painéis e intervenções surgiram no âmbito da temática geral " Do ensino de emergência à transformação digital", que levou a uma reflexão sobre o que se fez, o que se faz e o que se poderá fazer neste âmbito 

Comentário aos vídeos de Michael Wesch


An anthropological introduction to YouTube




No vídeo An Anthropological Introduction to YouTube, publicado por Michael Wesch em 2008, reflete-se sobre o impacto do YouTube na sociedade e assiste-se à mobilização de temáticas relativas à questão da identidade, do "self", da presença virtual, da produção e seleção de conteúdos e das comunidades. 

Assim, e a partir de dados estatísticos, evidencia-se que o produto aí distribuído, ainda que de natureza amadora, consegue cativar, por via da propagação quase instantânea proporcionada pela Web 2.0, um público imenso. 

Nesse sentido, Wesch mobiliza os conceitos de “user-generated content" e de “user-generated filtering” para evidenciar de que forma esse produto chega aos destinatários, por força do envolvimento ativo da própria comunidade, que apelida de “user-generated organization, sevindo-se do que chama deuser-generated distribution”. 

Para melhor compreender esse fenómeno, interage Wesch, como membro ativo, através da webcam com essa comunidade, percebendo que o seu discurso se dirige a um público incógnito, em local desconhecido, fenómeno que denomina de audiência invisível, o que o obriga a questionar-se sobre a sua própria identidade, pelo que ela poderá revelar sobre o próprio, até porque ocorre num contexto inédito que ele apelida de "context collapse". 

Em todo o caso, e numa visão aparentemente positiva, Wesch conclui que esse espaço virtual evidencia, por parte dos seus utilizadores, valores humanistas de partilha e entreajuda e que se revela como um espaço privilegiado para o reencontro com um determinado bem-estar. 

Percebe-se que o autor defende que o YouTube permite o desenvolvimento do conhecimento coletivo, que se constrói pela comunicação mediada pelas novas ferramentas digitais, que acabam por transformar profundamente as relações sociais. 

Neste sentido, aproxima-se do que Pierre Lévy defende, quando considera que a cibercultura permite a democratização e o acesso ao conhecimento. 

Assim, este vídeo apresenta-se como um instrumento extraordinário para refletir sobre precisamente o impacto que o YouTube adquiriu na sociedade ligada pela internet, mobilizando conceitos que permitem compreender a sua natureza e papel. Num documento organizado de forma sequencial, conduz o espetador na observação desse fenómeno do YouTube, permitindo compreender como ele se constrói e que papel assume num novo paradigma social.


A Vision of Students Today






 No vídeo A Vision of Students Today, publicado por Michael Wesch, em colaboração com 200 estudantes da Universidade de Kansas State, em 2007, reflete-se sobre a perceção que os estudantes têm de como decorre o seu processo de ensino-aprendizagem, quais os seus sonhos, os seus objetivos e as suas expetativas. 

Os mesmos referem que o seu processo de aprendizagem está desfasado da realidade em que se movimentam. Parece evidente que a presença daqueles jovens se faz antes sentir efetivamente na rede, que é onde se parecem mover de forma significativa e com destreza. Para além disso, constatam que a relação custo-benefício associada ao modelo tradicional carece de lógica. Finalmente há a conclusão de que o ensino, nos moldes tradicionais, não forma verdadeiramente para o futuro. 

De facto, não parece haver dúvidas de que as metodologias tradicionais e expositivas, típicas do ensino presencial, estão ultrapassadas e são pouco motivadoras para os nativos digitais. A questão fulcral é perceber o porquê de estes estudantes terem maior nível de concentração, foco e motivação quando estão conectados em rede. Eventualmente a resposta tem que ver com a centralidade do aluno/indivíduo no processo de ensino-aprendizagem ou com a comunicação mediada por tecnologias. As redes permitem não apenas interação, mas também partilha e colaboração, onde a opinião de cada um contribui para um crescendo de interesse no tema, sendo ela valorizada. A pesquisa, reflexão e metacognição são elementos bem mais importantes e produtivos ao nível da construção de conhecimento e assimilação, do que a memorização exercitada ad aeternum nos modelos de ensino expositivo. 

Assim não há hipóteses de se formar profissionais do futuro, que terão empregos ainda por "inventar", como referido no vídeo, quando se utilizam métodos do século passado. 

O mais surpreendente é que, aproximadamente 15 anos após a realização deste último vídeo, ainda se está a debater a urgência de uma mudança do paradigma na educação, tal como Wesch fez em 2007. Assim, o referido vídeo vem mostrar a premente necessidade de adaptar e readequar as metodologias e métodos utilizados na escola à realidade em que os alunos se movimentam. De facto, se à data em que o vídeo foi feito esta já era a perceção dos alunos, pouco mudou de então para cá. 



Students helping Students








No vídeo Students helping Students (2010), o otimismo do autor decorre da convicção de que os novos meios de comunicação social permitem um novo modelo de interação social, mais colaborativo e promotor do autoconhecimento e da liberdade, como, aliás, se evidencia no vídeo e que prova a existência de solidariedade entre estudantes, mostrando que, contrariamente ao que por vezes se poderia pensar, os jovens de hoje correspondem a uma geração que, perfeitamente integrada com o digital, partilha dos valores humanistas e que o isolamento por vezes associado a essa vivência digital afinal não compromete os ditos valores humanistas. 

É curioso notar que a palavra “communicare”, em latim, tem justamente o significado de partilhar, repartir, tornar comum, associar, sendo, assim, uma geração de jovens que comprovam ser possível ter uma comunicação empática seja ela virtual ou não. 



The Machine is ( Changing) Us: YouTube and the Politics Authenticy







  No vídeo The machine is (changing) us (Wesch, 2009), o autor reflete em torno do papel da Web 2.0 na configuração de uma sociedade de características próprias.  

Wesch começa por apontar a perspetiva de Postman, que concluiu que, com o advento da televisão, a sociedade se parece ter deixado arrastar para um certo marasmo e alheamento. Esta conclusão decorre do facto de os media influenciarem as relações sociais e de que a mudança dos/nos media produz alterações na forma como nos relacionamos/comunicamos/interagimos (Media Ecology). 

Considera que o facto de a televisão tradicional estar nas mãos de um grupo restrito de produtores de conteúdo pode ser apontado como responsável por esse alheamento do cidadão face ao mundo e seus problemas. De facto, Wesch aponta o poder dos media tradicionais. 

É indiscutível que a livre informação é essencial para a existência de um sistema político democrático, no entanto sabe-se que interesses económicos, políticos e corporativos influenciam essa informação que se quer livre. Os media também influenciam a cultura, moldam as sociedades consoante os seus interesses e atuam como um meio de “afirmação da individualidade: o recurso pelo qual se constroem as identidades e que permite a cada indivíduo definir uma personalidade própria”, atuam na atribuição de status, em proporcionar prestígio e em reforçar as normas sociais (Lopes, s.d., p.5-24). 

Com os novos media digitais essa influência não mudou, pelo contrário atinge um público muito mais vasto e tem maior proximidade. A homogeneidade cultural que existia até à Web 2.0 já não existe, pois agora é possível escolher, filtrar e evoluir de forma personalizada, no entanto para decifrar os media é necessário educar para os media, sendo que agora também é necessária a dita literacia digital. Enquanto houver quem não saiba "ler" os media, estes continuarão a exercer a mesma influência, mas agora à escala planetária. A identidade e a democracia estarão em jogo graças às fake news, que continuam a ser disseminadas e partilhadas, e aos interesses económicos que patrocinam as redes. 

A perceção de que novos meios de comunicação emergem permite-nos acreditar em alterações significativas na cultura, sociedade e educação. Porém Wesch reconhece que as salas de aula do presente (2007) não ilustram ainda esse envolvimento social ativo e dinâmico que deseja(mos) mas tem a certeza de que a culpa não está nos jovens, pois estes provam essa capacidade de envolvimento sempre que lhes é dada a oportunidade de fugirem do anonimato a que a vida urbana (n)os vota. 

O que fica evidente é que há a necessidade de um certo reconhecimento e afirmação de identidade, que cada um tem de construir. Alerta, porém, para os riscos, na medida em que essa busca por um eu autêntico (authentic self) conduz a um certo egocentrismo, ausência de engajamento cívico e à fragmentação social. Em todo o caso, o seu otimismo decorre, então, da convicção de que os novos meios de comunicação social permitem um novo modelo de interação social, mais colaborativo e promotor do autoconhecimento e da liberdade, como, aliás, se evidencia no vídeo Students helping Students (2010). 



The machine is Using Us







Neste vídeo, o autor coloca-nos a questão sobre se estaremos a ser usados pela tecnologia (máquina) ou se a máquina somos nós. Aqui reflete-se sobretudo sobre a influência que cada um de nós tem no desenvolvimento das tecnologias ou da “máquina” em si. Wesch alerta para a nossa responsabilidade na questão da gestão e proteção de dados e para os desafios presentes na "máquina": autoria, transparência, identidade, questões éticas, etc. 

De facto, somos nós quem colaborativamente constrói a rede, pois os algoritmos existem para captar as nossas preferências e para nos manter ligados a uma ou mais comunidades. Mas também somos por ela usados sem que nos apercebamos, quando os algoritmos utilizam os nossos dados. Trata-se de um ciclo onde cada elemento necessita do outro. Nesse sentido, nós, que somos parte dessa comunidade ligada em Rede, somos também a própria Rede (a máquina!), ensinando-a e com ela aprendendo de cada vez que com ela interagimos. Uma vez mais, o autor se mostra profundamente otimista face às potencialidade do digital, que veio simplificar o processo da partilha de conteúdo pelo cidadão comum. 

Wesch ainda se refere a alguns pontos significativos, nomeadamente quando menciona aquilo em que nos estamos a tornar enquanto "rede" e o que queremos na realidade: ser mais individuais, mas ansiando por um sentimento de comunidade; queremos ser mais independentes, mas ansiando por relações mais fortes; queremos mais comercialização, o que entra em contradição com a autenticidade. Assim, esta rede que construímos e a "máquina" que estamos a produzir e a alimentar com os nossos vídeos, likes, etc, faz com que sintamos uma "liberdade" alimentada pelo anonimato de não nos relacionarmos diretamente com as pessoas. A rede protege-nos, de algum modo, desse confronto. Assim, se por um lado esta rede alimenta o nosso conhecimento e o modo como nos ligamos virtualmente às pessoas, por outro lado obriga-nos a uma autoconsciência quando somos confrontados com a sua dimensão. 

O autor conclui a sua análise antropológica do tema, apontando para duas contradições de se viver numa sociedade em rede, pois, ao mesmo tempo em que compartilhamos, trocamos e colaboramos, concomitantemente devemos repensar sobre os direitos autorais, a ética, a identidade, a privacidade e os valores humanos. 

A questão colocada como título do vídeo The Machine is Us/ing Us? É uma questão complexa, que nos remete para duas frases escritas, respectivamente, por Pierre Lévy e Paul Virilio, que tanto nos fazem pensar: 

 

“Esta atividade de seleção e organização dos dados se tornou uma atividade central da nossa época. Uma época em que quase a maioria da humanidade está conectada à internet”  

(Lévy, In Thomé, 2016).  

 

“...every technology carries its own negativity, which is invented at the same time as technical progress.” (Virilio, 1999, p.89). 



Referências Bibliográficas

 

Lévy, P. (1999) Cibercultura. Editora 34: São Paulo. Disponível em: https://www.giulianobici.com/site/fundamentos_da_musica_files/cibercultura.pdf 

 

Lopes, R. (s.d.) O poder dos media na sociedade contemporânea. http://www.labcom.ubi.pt/files/agoranet/04/lopes-rita-media-e-poder.pdf 

Tomé, L. (2016) Uma nova revolução na comunicação: Pierre Lévy – Curadoria de dados e inteligência coletiva. Conferência Fronteiras do Pensamento. https://www.fronteiras.com/ativemanager/uploads/arquivos/agenda_conferencias/6d3387e1c4a025c92784eb53f6d01672.pdf 

Virilio, P. (1999) Politics of the Very WorstSemiotext(e), New York 

Wesch, M. (2007) A Vision of Students Today. (Vídeo). 

Wesch, M. (2007) The Machine is Us/ing Us (Final Version).(Vídeo). 

Wesch, M. (2008) An anthropological introduction to YouTube.(vídeo) 

Wesch, M. (2009) The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity.(vídeo).  

Wesch, M. (2010) Students Helping Students. (vídeo).